R.I.P. Steve Jobs

A capa do site oficial da Apple traz uma homenagem ao seu fundador, Steve Jobs, que faleceu hoje, aos 56 anos: “A Apple perdeu um gênio visionário e criativo, e o mundo perdeu um ser humano fantástico. Aqueles que tiveram a sorte de conhecer e trabalhar com Steve perderam um amigo querido e um mentor inspirador. Steve deixa para trás uma companhia que só ele poderia ter construído e seu espírito será para sempre o pilar de sustentação da Apple.”

Afastado da empresa desde o final de Agosto, o fundador da mais bem-sucedida empresa do mundo, que já havia passado por diversos problemas de saúde, estava tratando um reincidente câncer no pâncreas. De acordo com comunicado oficial, Jobs morreu pacificamente, cercado por seus familiares.

A Apple é hoje a mais valiosa companhia dos EUA. A gigante do mercado tecnológico tem ações que somadas valem aproximadamente US$ 350 bilhões. Há quem pense que Jobs seja um verdadeiro gênio da tecnologia. Ledo engano. Desde a criação do primeiro produto da marca, o Apple I (o primeiro computador pessoal desenvolvido pelo amigo de faculdade do ex-CEO, Steve Wozniak), Steve Jobs deixava a tecnologia a cargo de quem realmente entende de tecnologia. A especialidade dele era criatividade. Era transformar em produtos de massa gadgets tecnológicos que, até então, pareciam complicados e inimagináveis.

Desde sua renúncia ao cargo de CEO da Apple, a trajetória de Steve Jobs tem sido divulgada em diferentes veículos de comunicação. Já é notório que seu temperamento, digamos, passional lhe rendeu a demissão da empresa que fundou, em meados dos anos 80. Sabe-se também que ele deu a volta por cima, fundou a NeXT e ajudou na construção do que hoje é o maior estúdio de animação do planeta, a Pixar. É provável que você também já tenha assistido ao famoso discurso feito na universidade de Stanford (se ainda não viu, veja aqui) – onde o próprio descreve como todos os percalços foram importantes para levá-lo de volta à uma quase falida Apple, já nos anos 90, e levantá-la dos escombros, transformando-a no sucesso que é hoje.

Mas o que surpreende não é apenas a história do geniozinho adotado que não terminou a universidade e mesmo assim entrou pra história por feitos que literalmente mudaram o mundo. O que encanta não é só a dedicação e amor ao seu trabalho, nem a determinação em alcançar a perfeição. O que inspira não é unicamente a capacidade que Jobs tinha de lutar pela vida e renascer das cinzas. O que impressiona, mesmo, é a capacidade que ele tinha de nos convencer de que cada palavra do que ele dizia era verdade absoluta (mesmo que não existam verdades absolutas). O que hipnotizava era o carisma, característico de quem acredita, e muito, no que diz e faz, que ajudou a fazer da Apple praticamente uma religião. Não há no mundo uma empresa que tenha consumidores tão fiéis. E a Apple é uma religião cujo Messias é humano e, parafraseando Nietzsche, demasiado humano.

Dizem por aí que, por seu temperamento arrogante e, às vezes, agressivo, Jobs era odiado por muitos. O primeiro a chegar e último a sair dos escritórios da companhia, era workaholic alucinado e enlouquecia seus subordinados exigindo perfeição. Não admitia erros. Reza a lenda que em arroubos histéricos chegou a demitir funcionários contratados minutos antes. Ignorou uma filha ‘não oficial’ por anos. Avesso a filantropia, fez da Apple uma das empresas norte-americanas que menos investem em responsabilidade social. E, recentemente, teve até a pachorra de responder com absoluto desdém a uma reclamação de um consumidor insatisfeito com a instabilidade do sinal do iPhone 4 – aparentemente, um dos aparelhos mais desejados do mundo tem problemas sérios de sinal quando o usuário o segura com força, ou cobre o botão esquerdo do telefone – “Just avoid holding it in that way” – aconselhou Jobs (Sim, ele tinha o hábito de responder pessoalmente algumas mensagens de consumidores).

Mas por mais controverso que pareça, é indiscutível o fato de ser ele o maior visionário que a revolução tecnológica fabricou. Com sua mania de fazer sempre apenas o que achava melhor, independente do mercado, Steve Jobs terminou reinventando as indústrias da computação pessoal, do cinema de animação, da música, da telefonia celular, da edição digital, além de ter sido pai do iPad, aparelhinho que inspirou uma geração inteira de tablets, segmento que hoje ameaça a existência dos computadores pessoais. Mas Jobs foi muito além disso. O que dava ao responsável pela existência de interfaces gráficas em computadores, e pela presença do mouse em nossas vidas, o status de rockstar, era seu poder de transformar geeks e nerds em sinônimos de cool. Transformando tecnologias antes inacessíveis em produtos simples e de fácil uso, em desejos de consumo no mundo todo, Steve Jobs terminou aproximando dois mundos muito distantes um do outro. Afinal, o que mais poderia haver de comum aos mais populares alunos da escola, típicos personagens dos filmes de High School americanos, e os CDFs estudiosos da primeira fileira da classe, se não iPads, iPods e iPhones? O que mais poderia haver de comum a nós, meros mortais, e gênios da dimensão de Steve Jobs, se não suas fantásticas criações?

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