A importância de um bom vilão

Dirigido pelo brilhante Sam Mendes (vencedor do Oscar de melhor diretor por seu trabalho no filme ‘Beleza Americana’), ‘007 – Operação Skyfall‘ foi considerado pela crítica especializada como o melhor lançamento da franquia cinematográfica do agente James Bond. Com Daniel Craig vivendo o herói pela terceira vez, o longa resgata, em clima de nostalgia, um triunfante Bond clássico, voltando às básicas perseguições, acrobacias e brigas dos primeiros filmes.

Mas apesar de todo charme e magia que envolvem um dos mais famosos agentes secretos da história do cinema, quem rouba a cena do 23º filme da série é o vilão. Bond é um personagem indiscutivelmente irresistível, principalmente porque, mesmo após 50 anos e 23 filmes, ele consegue se reinventar a cada nova trama. Mas é o bizarro e exótico malfeitor vivido por Javier Bardem quem dá o tom a ‘007 – Operação Skyfall‘.

Os grandes vilões da história da ficção são facilmente reconhecidos por representarem tudo que há de antagônico àquilo que o mundo considera bom e correto. Geralmente os anti-heróis deveriam ser exatamente o oposto dos protagonistas. Porém, como eu mesma já escrevi em um outro post por aqui, desde o final do século passado vivemos uma mudança de paradigmas em que os vilões têm capacidade de conquistar a simpatia do público. E em ‘007 – Operação Skyfall’ há uma forte conexão entre herói e o vilão, e a linha que separa um do outro é mais tênue do que se poderia esperar. Bond e Silva têm mais em comum do que se imagina.

(Atenção: Se você não viu o filme, pule o próximo parágrafo)
Raoul Silva, cujo o nome verdadeiro é Tiago Rodriguez, é um ex-agente da MI6 que se transformou em ciberterrorista e busca vingança por ter sido traído e trocado por prisioneiros detidos pelo governo chinês. Entregue por M, Silva foi torturado e preso, tentou se suicidar sem sucesso. A tentativa fracassada lhe rendeu terríveis sequelas físicas e psicológicas. Em ‘007 – Operação Skyfall’, bandido e mocinho são unidos por um indiscutível laço, já que no começo do filme M ordena um tiro que poderia facilmente ter tirado a vida de Bond.

É claro que por trás de um grande vilão sempre há um grande ator. E Javier Bardem, que já havia mostrado ter talento suficiente para encarnar malfeitores com Anton Chigurh de ‘Onde os Fracos Não Tem Vez’, merece os louros por esse trabalho. Mas é a empatia que se consegue estabelecer com o complexo personagem que faz com que ele roube a cena do filme. Raoul Silva é estranho, cínico, sinistro, ambíguo, dono de um encantador humor negro, e ainda tem motivos pra lá de justificáveis para ter se tornado um vilão. Pois então, convenhamos… traumas e sofrimentos em geral são elementos capazes de criar empatia entre os piores bandidos da ficção e o público.

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