Malditas palavras mal ditas

Sou formada em Comunicação Social. Isso significa que estudei Teoria da Comunicação por alguns anos. Comunicação, em tese, parece algo simples: o emissor transmite, por meio de um canal de comunicação, uma mensagem, usando um código, a um receptor, dentro de um contexto. Ok! É mentira. Relendo a sentença que acabei de construir percebo que nem em teoria comunicar-se parece assim tão simples. Mas convenhamos, não deveria ser tão complicado quanto é na prática. Eu sei, em teoria, tudo parece sempre mais fácil. Em teoria alguém que estudou comunicação por anos e se formou nisso, deveria saber se comunicar bem. E, em teoria, eu sei, mesmo. Trabalho com isso, escrevo bem, falo razoavelmente bem. Enfim, em teoria, me comunico bem. Mas na prática… ah, maldita prática, ou falta de.

tumblr_lgfek5h6ne1qe18lco1_500_largeEntender porque muitas vezes a comunicação entre duas pessoas termina falhando é relativamente fácil. Pense bem. De acordo com algumas das muitas definições teóricas de comunicação que estudamos nos livros, ela é “o processo de fazer participar um indivíduo nas experiências de outro, utilizando elementos comuns”. Ou significa “compartilhar elementos de comportamento ou modos de vida” com o outro. Ótimo. Belas definições. Só precisamos lembrar que experiências são únicas e intransferíveis, e o tal comportamento, definido como conjunto de ações de um indivíduo, é resultado das reações individuais a sei lá eu quantos estímulos. Ou seja, tanto experiências quanto comportamento são coisas muito difíceis de serem compartilhadas. Emissor e receptor podem enxergar muitas coisas de formas completamente diferentes. Isso porque nem estamos contando com os desvios de mensagem que podem acontecer em função do contexto, do canal de comunicação e do código usado.

Ou seja, toda essa teoria e esse blá blá blá que eu expliquei aqui em cima não servem para muita coisa. Na vida real, longe dos livros de filosofia, e apesar do gigantesco aumento do número de mídias e meios de comunicação, nós temos tido cada vez mais dificuldade de nos comunicarmos uns com os outros. E o pior: é possível que seja exatamente essa enorme quantidade de formas de comunicação que existem no mundo moderno o problema. Os telefones celulares ‘smart’ e redes sociais nos mantém em contato com muitas pessoas simultaneamente, por muito mais tempo. Mas, nesse caso, a quantidade termina vencendo a qualidade de goleada. Nada substitui o tom de voz, o olho no olho, a expressão no rosto do interlocutor. Nada substitui um sorriso ou abraço. Palavras são realmente muito importantes para a humanidade, mas ficam vazias se não acompanhadas de atitudes, de pequenos gestos. Elas, as palavras, soltas por aí em quaisquer meios de comunicação, não só correm o risco de perderem o sentido, como podem também mudar de sentido, serem interpretadas de forma incorreta.

1002726_426331627465418_63131093_nEu mesma tenho a incorrigível mania de escrever para organizar meus pensamentos. Sou do tipo que manda e-mails e mensagens intermináveis. Talvez por ser um pouco desconcentrada, tenho sempre a nítida sensação de que me comunico melhor escrevendo. Eu gosto de escrever. E, realmente, quando leio minhas ideias, pensamentos e sentimentos organizadinhos num papel, ou numa tela de computador, consigo me entender muito melhor. Mas quem foi que disse que isso significa que outra pessoa lendo as mesmas palavras vai fazer a mesma interpretação que eu faço das minhas próprias palavras? Não vai. Eu sei o que se passou dentro de mim quando digitei aquelas palavras, sei que entonação eu gostaria de dar para cada uma delas, sei que experiências elas refletem. Mas o meu receptor vai ler as mesmas palavras através dos olhos, coração e experiências dele. Parece obvio, não? E por que raios insistimos em não perceber? Se nem mesmo todas as palavras da nossa língua têm o mesmo significado para diferentes pessoas, porque um conjunto delas teria? O que você chama de amor pode ser bem diferente do que a pessoa ao seu lado chama de amor. E há milhares de outras palavras abstratas no nosso dicionário.

Além disso, outra teoria, a do espelho, do psicanalista Carl Jung, lembra-nos que “o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a ver e censurar no outro”. Ou seja, é muito fácil encontrarmos inconscientemente nas mensagens alheias nossas sombras e fantasmas. E os monstrinhos dos armários dos outros também vivem tentando se esconder atrás das nossas palavras e até mesmo atitudes, pode ter certeza. E agora? Quem poderá nos defender desse mundo cheio de falhas de comunicação que destrói impiedosamente as relações humanas?

sentir +5Tentar se colocar no lugar do outro não é uma tarefa nada fácil. Imaginar como a sua mensagem será recebida, só é possível quando você conhece muito bem o receptor, e olhe lá! Mas acredito que é possível aprendermos a nos comunicar direito. Só precisamos de paciência, boa vontade e uma boa dose de carinho. Principalmente depois das palavras mal ditas já ditas. Para consertar enganos são necessários muitos abraços, gestos, olhares, sorrisos e atitudes. E para não seguirmos repetindo os mesmos erros, será preciso amor. Porque se expressar pode ser muito complicado. E entender, às vezes, pode ser praticamente impossível. Mas já que esse texto todo cita tantos teóricos e suas teorias, nada melhor do que terminar com Einstein: “Algo só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário”.

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